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“Polêmica” com o Bispo Dom Roberto

Líder da Igreja Católica na Diocese de Campos, o religioso abordou temas como política, cristofobia e o mercado da fé

Religião
Por Marcos Curvello
1 de novembro de 2020 - 18h45

Jornalista Marcos Curvello recebeu nos estúdios da 3ª Via TV o Bispo Dom Roberto

O bispo Diocesano de Campos, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, foi o entrevistado desta semana no programa “A Polêmica”, transmitido pela 3ª Via TV. Durante os quase 45 minutos de entrevista, ele falou ao apresentador interino Marcos Curvello sobre a atuação da Igreja Católica durante a pandemia do novo coronavírus e comentou assuntos controversos, como escândalos envolvendo o clero, dogmas de fé e polarização política.

Dom Roberto Francisco, que abriu, em maio, o Encontro Inter-religioso das Pastorais Ambientais do Brasil, começou relacionando o atual modelo de exploração econômica global ao surgimento de males como a Covid-19. Bispo referencial da Pastoral da Saúde, da Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil (CNBB), ele enumerou ações da Igreja para combater as necessidades sociais que a crise sanitária trouxe à tona e criticou o que chamou de ideologização do combate à doença.

“Houve dificuldades com o lockdown, protestos. Disseram que cloroquina é a única coisa capaz de resolver o problema. Se ideologizou a Saúde. Vemos isso, agora, com a vacina da China. Afirmam que há uma conspiração, que a vacina vem com o vírus. Alto aí. O Butantã é um instituto sério. Vamos deixar a Ciência trabalhar”, afirmou.

No caldeirão da política
O bispo diocesano de Campos desmentiu, durante o programa “A Polêmica”, boatos de que teria participado de articulações para compor chapa como candidato a vice-prefeito de Campos, nas eleições de novembro.

“Os padres, e muito menos os bispos, não estão habilitados para a política partidária. Seria dividir a comunidade. Nossa função na política é formar, dar espiritualidade aos leigos, e ajudar a discernir, neste momento de eleições, ou os diversos ministérios do leigo na política, que não é só partidária. Ela se faz nos sindicatos, nos conselhos paritários. A Igreja está sempre preocupada com o associativismo cívico”, explicou.

Visitado com frequência por candidatos a prefeito nos últimos dias, Dom Roberto Francisco revelou que os encontros servem a dois propósitos: conhecer propostas e equacionar “um bom relacionamento” com os possíveis futuros chefes do Executivo Municipal.

“Sempre ofereço a colaboração, seja qual for o candidato. E nós também mostramos interesse em áreas programáticas. Por exemplo, no cuidado com os pobres, as obras sociais. A liberdade religiosa, o patrimônio ambiental, o respeito aos planos de saneamento básico e de resíduos sólidos, que são Saúde, ao plano diretor, que organiza o espaço e deve facilitar a todas as igrejas e crenças a possibilidade de ter seus templos. São questões que interessam às igrejas e à sociedade, uma vez que o Estado é laico, mas as pessoas não. Elas têm convicções”.

Questionado como se posiciona ideologicamente, Dom Roberto Francisco afirmou que é “solidarista”. “Sou partidário da doutrina social da Igreja. Há uma antropologia cristã, que busca se inspirar nos princípios da dignidade da pessoa humana, da solidariedade, da justiça social e da participação”, elencou.

Cristofobia
Ainda falando sobre discursos políticos, o bispo diocesano de Campos relacionou à intolerância religiosa mais ampla e a “um laicismo intolerante” a ideia de cristofobia, tema central de pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro.

“Existe a fobia ao cristianismo como existe às religiões de matriz africana e ao budismo, por exemplo. Certamente o presidente tem razão ao se referir a nações islâmicas sunitas, como a Arábia Saudita, onde as leis sobre o culto são rígidas e a possibilidade de evangelizar é quase nula. Há, também, em alguns países, um laicismo intolerante ao sagrado e ao religioso. Não só cristofobia, mas a tudo que seja manifestação religiosa”, avaliou.

Mercantilização da fé
Dom Roberto Francisco criticou o que chamou de “mercantilização da fé”, ao ser perguntado sobre escândalos envolvendo sacerdotes, como o padre Robson de Oliveira, acusado pelo Ministério Público de Goiás de desvio de dinheiro ofertado por fiéis à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). A ação penal foi trancada pela Justiça do Estado.

“A mercantilização da fé como meio ou para atender uma evangelização de massa tem seus perigos e abre brechas muito grandes. O grande problema do padre Robson, me parece, é seu estilo de vida como religioso. Não estou julgando ele. Acredito que é um homem de Deus. Porém, a casa onde ele estava, o conforto, isso não combina”.

Infalibilidade Papal e opinião
O bispo diocesano de Campos refutou, ainda, que o Papa Francisco tenha defendido a união civil homossexual em documentário que estreou no último dia 21. “O Papa não aderiu à tese da união civil. Ele defendeu que sejam protegidas as pessoas homossexuais nas suas famílias e, no caso, daqueles que contraíram uniões civis, sejam respeitados, claro. É direito deles”, garantiu.

Por fim, o dom Roberto Francisco tratou das críticas feitas por católicos ao Pontífice e como essas manifestações conflitam com dogmas da própria Igreja. “É preciso não esquecer quem é o Papa, para nós católicos. É aquele que tem o primado, que é a vontade de Cristo, concedida a Pedro. Você tem todo direito, como fiel, a opinar. Escrever uma carta ao Papa e dizer ‘não entendi bem o que o senhor quis dizer’. Agora, atacá-lo nas redes sociais, isso é falta de fé, porque ele não acredita que o Papa seja o sucessor de Pedro”, encerrou.